quinta-feira, 17 de novembro de 2011

BARROSO, 2011

Estou de borco, debruçado sobre as palavras, imerso na geografia das montanhas, recolhendo por entre a névoa os fragmentos de lugares, aparentemente, vestígios que deposito, bloco a bloco nestas páginas:

Tourém, Barroso, 2 de Setembro de 1990.

LIMITE

Pátria até que os meus pés
Se magoem no chão.
Até que o coração
Bata descompassado.
Até que eu não entenda
A voz livre do vento
E o silêncio tolhido
Das penedias.
Até que a minha sede
Não reconheça as fontes
Até que seja outro
E para outros
O aceno ancestral dos horizontes.

in Diário, Vol. XVI, Miguel Torga, 1995


TOURÉM

Os olhos do poeta
passavam pelos teus,
graníticas calotes,
onde a exfoliação
do tempo lançou
as raízes incertas na
áspera fundura da terra,
receptáculo em que
o castanheiro derramou
as derradeiras folhas.

O corpo, embora a fundura
pese na paisagem dura,
cavada na distância de
séculos, flutua no límpido
manto das grandes águas.

Paulo da Ponte, Barroso, 15 de Outubro de 2011

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