quarta-feira, 1 de maio de 2013

NOTA DE ABERTURA

Nada faria prever a falência do sistema capitalista de uma forma tão abrupta e brutal. Primeiro, as caixas de multibanco foram sendo removidas e os funcionários bancários utilizados como pedreiros para tapar os buracos abertos nas paredes bancárias. Em seguida houve necessidade de colocar tapumes nas portas e montras envidraçadas, sendo os caixas reconvertidos em carpinteiros. O.... Pisse assumia a coordenação das equipas de rua, que recolhiam as notas avulso expelidas pelo colapso de balcões e caixas fortes. De camaroeiros em punho tentava-se evitar o espalhamento de notas indevidamente e controlar o endividamento incontrolável. Tudo era confinado, acondicionado por um espartilho, antes da implosão de todo o sistema. Octave encarregou-se ele próprio de distribuir sacos cadáver para recolha e acondicionamento de todos aqueles que, não consigam ficar fora do raio de influência do impacto financeiro na altura da detoonação. A toxicidade de alguns produtos levaria à asfixia daqueles que, duma forma ou de outra, trabalhassem junto de spreads e taxas de juro fictícias. O. Pisse ficaria no centro de toda a turbulência financeira, movimentando carteiras de títulos e atando as operações bolsistas de última hora, desligando os painéis electrónicos, desfazendo qualquer margem negocial, limpando qualquer vestígio de dinheiro com lixívia.

in "Octave Pisse, o último corredor de fundo", Paulo da Ponte