Zéfirofolio acordara com uma sensação estranha naquele dia. No centro da cama, completamente nu, o sexo erecto dominava. Ele sabia que aquele dia não ia durar para sempre, que as horas iriam resvalar em cacho de encontro à penumbra e inevitavelmente o tesão terminaria.
Zéfirofolio enquanto isso acontecia, era um ser feliz. Olhando a aresta interior do quarto, não conseguia distinguir as ligeiras irregularidades do reboco que definiam a separação dos espaços: dentro/fora, fora/dentro, conteúdo/continente. Era para ele um dia novo, do novo ano, disso não haviam dúvidas, e se elas porventura existissem, o sexo ali estava vertical e limpo a marcar toda a certeza do momento. A estranheza que sentia devia-se em grande medida àquela posição assumida, no centro da cama, cuja precisão geométrica o assombrava. Já o sexo altivo não lhe causava qualquer estranheza.
A pouco e pouco ia mexendo os braços e observava a oscilação de mastro que assumia o mastro. Qualquer vela se sentiria confortável naquele suporte prodigioso, preparada para qualquer navegação. Zéfirofolio considerava-se ele próprio um dos primeiros navegantes, com a coluna vertebral bem assente no mar acolchoado. As suas costas sulcavam com prazer as macias águas do novo ano, que lhe entrava ainda intacto pelas narinas.
P. Ponte(1-01-2012)
Sem comentários:
Enviar um comentário